Wagner Geribello, outubro de 2005
Máximo e mínimo
Retiro forçado por questões de saúde me colocou fora das últimas edições de Semana 3. Retorno retomando o tema da crise política que, infelizmente, foi (é) maior, no tempo e no espaço, que meu involuntário afastamento.
Abarrotada de crise, a mídia, no geral, tem apontado fatos e desdobramentos como conseqüência exclusiva do comportamento errado e dos erros de condução das agremiações que ora ocupam o Governo Federal, Partido dos Trabalhadores à frente, tratando a oposição (elite político-econômica liberal) como simples observadora passiva do processo, isenta de planejamento e ações no sentido de empurrar de vez a situação para o buraco.
Assim, o comportamento da grande imprensa nem sempre deixa ver que a direita não tem se furtado ao impulso de empurrar a banqueta sobre a qual a esquerda está apoiada, após enrolar no próprio pescoço a corda da improbidade, atada com o nó da incompetência. Apoiada em fórmulas maniqueístas, a mídia tem reservado manchetes para os desmandos criminosos da esquerda, enquanto relega pouco espaço para evidências que ajudem esclarecer quanto a direita deixa de perder com a fragilização da esquerda e como isso reflete no contexto político, social e econômico do país.
Confira alguns itens que vão ou foram “pras cucuias” por conta da desmoralização das forças políticas de esquerda e da conseqüente queda da sua capacidade de influir nos destinos do País e cuja alteração favorece muito o projeto liberal.
TV digital. Sai de vez a tese do desenvolvimento de tecnologia brasileira, substituída por aquisições no mercado internacional, independente da dependência que acompanha a decisão, implicando em mais sucateamento dos recursos nacionais de pesquisa, fuga de cientistas e volta à dependência crescente da ciência alienígena, ao preço e às ordens dos centros hegemônicos.
Privatizações. Interrompidas e, em certos casos, questionadas pelo atual governo, voltam à baila com o fortalecimento do poder liberal, inclusive com alguns itens já definidos, como educação (abertura ao capital estrangeiro e proliferação descontrolada do ensino pago) e recursos hídricos (captação, tratamento e distribuição).
Comunicações. Consolidação de agências reguladoras e legislação favorável à democratização dos meios e recursos, timidamente ensaiadas na atual gestão, desaparecem das pautas de governo. Independente de conseqüências sociais e culturais, o mercado volta a regular (?) produção cinematográfica, concessões de transmissão (rádio e tv) e coisas que tais.
Informática. Vira passado, sem nunca ter sido presente, a possibilidade de substituir a base Microsoft por programas abertos na esfera governamental, assentando passos na direção da independência e da economia. Comandados da mega-empresa americana, atuando aqui em Pindorama, ficam livres para impor compra e uso “ad aeternum” dos badulaques virtuais de mister Gates.
Controle rígido dos desmandos capitalistas. Coisas como a investigação da “enrolação Daslu”, com direito a prisão de contraventores, independente de conta bancária e amizades influentes podem voltar a ser substituídas pelo vale tudo do mercado, em que “gente de negócio”, em princípio e por “lei natural”, está isenta de culpa e dispensada de investigação.
Políticas sociais. Soterramento da universalização, para adoção definitiva e integral da política focada, é o caminho sob o domínio liberal, sugerindo, sem exigir, que, na medida das possibilidades, mas não obrigatoriamente de acordo com as necessidades, o setor privado (travestido de “terceiro setor”) se encarregue do “esmolismo” aos pobres e desamparados, porque, ocupado com a Casa Grande, o governo não pode cuidar de azares e mazelas da senzala.
Geoestratégia. Mesmo tímidas e débeis, tentativas de reordenar o cenário internacional, ajustando esforços entre iguais (cognominados países em desenvolvimento), no ver e no fazer liberal atrapalham em demasia o mercado, de modo que bom mesmo é manter a condição periférica em nome do pragmatismo econômico e do “realismo” diplomático.
A lista poderia ir seguindo, mas já basta para mostrar que à maximização de alguns fatos (manchetes, retumbância, chamadas, o show da mídia), corresponde a minimização de outros (notas, parcas pé de página, sem análise nem destaque) apesar da importância similiar entre ambos. No entanto, ao primeiro reclamo de que o descalabro do descalibre põe em xeque a isenção jornalística, vozes “zelosas” determinam que isso tudo não passa de tese conspiratória e alarmismo infundado, pois a mídia continua, sim, neutra e equilibrada... a bem da verdade.
(Publicado originalmente na edição 34, de outubro de 2005, da revista Semana 3)
Retiro forçado por questões de saúde me colocou fora das últimas edições de Semana 3. Retorno retomando o tema da crise política que, infelizmente, foi (é) maior, no tempo e no espaço, que meu involuntário afastamento.
Abarrotada de crise, a mídia, no geral, tem apontado fatos e desdobramentos como conseqüência exclusiva do comportamento errado e dos erros de condução das agremiações que ora ocupam o Governo Federal, Partido dos Trabalhadores à frente, tratando a oposição (elite político-econômica liberal) como simples observadora passiva do processo, isenta de planejamento e ações no sentido de empurrar de vez a situação para o buraco.
Assim, o comportamento da grande imprensa nem sempre deixa ver que a direita não tem se furtado ao impulso de empurrar a banqueta sobre a qual a esquerda está apoiada, após enrolar no próprio pescoço a corda da improbidade, atada com o nó da incompetência. Apoiada em fórmulas maniqueístas, a mídia tem reservado manchetes para os desmandos criminosos da esquerda, enquanto relega pouco espaço para evidências que ajudem esclarecer quanto a direita deixa de perder com a fragilização da esquerda e como isso reflete no contexto político, social e econômico do país.
Confira alguns itens que vão ou foram “pras cucuias” por conta da desmoralização das forças políticas de esquerda e da conseqüente queda da sua capacidade de influir nos destinos do País e cuja alteração favorece muito o projeto liberal.
TV digital. Sai de vez a tese do desenvolvimento de tecnologia brasileira, substituída por aquisições no mercado internacional, independente da dependência que acompanha a decisão, implicando em mais sucateamento dos recursos nacionais de pesquisa, fuga de cientistas e volta à dependência crescente da ciência alienígena, ao preço e às ordens dos centros hegemônicos.
Privatizações. Interrompidas e, em certos casos, questionadas pelo atual governo, voltam à baila com o fortalecimento do poder liberal, inclusive com alguns itens já definidos, como educação (abertura ao capital estrangeiro e proliferação descontrolada do ensino pago) e recursos hídricos (captação, tratamento e distribuição).
Comunicações. Consolidação de agências reguladoras e legislação favorável à democratização dos meios e recursos, timidamente ensaiadas na atual gestão, desaparecem das pautas de governo. Independente de conseqüências sociais e culturais, o mercado volta a regular (?) produção cinematográfica, concessões de transmissão (rádio e tv) e coisas que tais.
Informática. Vira passado, sem nunca ter sido presente, a possibilidade de substituir a base Microsoft por programas abertos na esfera governamental, assentando passos na direção da independência e da economia. Comandados da mega-empresa americana, atuando aqui em Pindorama, ficam livres para impor compra e uso “ad aeternum” dos badulaques virtuais de mister Gates.
Controle rígido dos desmandos capitalistas. Coisas como a investigação da “enrolação Daslu”, com direito a prisão de contraventores, independente de conta bancária e amizades influentes podem voltar a ser substituídas pelo vale tudo do mercado, em que “gente de negócio”, em princípio e por “lei natural”, está isenta de culpa e dispensada de investigação.
Políticas sociais. Soterramento da universalização, para adoção definitiva e integral da política focada, é o caminho sob o domínio liberal, sugerindo, sem exigir, que, na medida das possibilidades, mas não obrigatoriamente de acordo com as necessidades, o setor privado (travestido de “terceiro setor”) se encarregue do “esmolismo” aos pobres e desamparados, porque, ocupado com a Casa Grande, o governo não pode cuidar de azares e mazelas da senzala.
Geoestratégia. Mesmo tímidas e débeis, tentativas de reordenar o cenário internacional, ajustando esforços entre iguais (cognominados países em desenvolvimento), no ver e no fazer liberal atrapalham em demasia o mercado, de modo que bom mesmo é manter a condição periférica em nome do pragmatismo econômico e do “realismo” diplomático.
A lista poderia ir seguindo, mas já basta para mostrar que à maximização de alguns fatos (manchetes, retumbância, chamadas, o show da mídia), corresponde a minimização de outros (notas, parcas pé de página, sem análise nem destaque) apesar da importância similiar entre ambos. No entanto, ao primeiro reclamo de que o descalabro do descalibre põe em xeque a isenção jornalística, vozes “zelosas” determinam que isso tudo não passa de tese conspiratória e alarmismo infundado, pois a mídia continua, sim, neutra e equilibrada... a bem da verdade.
(Publicado originalmente na edição 34, de outubro de 2005, da revista Semana 3)
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