Wagner Geribello, março de 2006
Interrupção
Termina nesta edição a aventura midiática de Semana 3 e, por causa, termina também a troca de figurinhas sobre mídia e adjacências que esta coluna procurou manter com os leitores desde meados de 2004, se não erram meus neurônios nem incorrem em engano meus desorganizados arquivos.
Foi bom! Durante esse período, mês sim, outro também, obrigava-me isolar um tema da/na mídia para tratar com os parceiros leitores, assim como fazem citologistas quando isolam determinada célula para pesquisa, do que pode resultar entendimento um pouco melhor do tecido. Conversar criticamente nunca é demais, nem debalde. Do diálogo vem debate e do debate costuma vir luz que permite enxergar melhor e, portanto, posicionar-se.
O lado ruim do processo é que as análises críticas aqui desenvolvidas, no mais das vezes, apontaram para horizontes pouco promissores e situações nada estimulantes no que respeita às relações mídia/sociedade. De um lado, a mídia insistindo em sobreviver exclusivamente como produto de/no mercado. De outro, amplas fatias da sociedade persistindo no afastamento gradual e inexorável da busca razoável de conhecimento e informação de interesse público, pra dedicar-se ao consumo constante e crescente de querelas e superficialidades. Assim, quando o repasto não é servido e o conviva não demonstra apetite, o banquete não acontece e os platonistas perdem a oportunidade do debate. À situação de jejum intelectual sobrevem o fato marcado pela esterilidade saarina da modernidade (ou pós-modernidade como querem alguns), dominada pelo supérfluo, avessa e aversa à exercitação do intelecto. Sobra esse mundeco midiático frívolo, envolvido “in toto” com a praga devastadora do consumismo liberal globalizado.
Escrevendo este derradeiro artigo no imediato pós-carnaval, perco-me na tentativa de localizar exatamente quando o carnaval começa e se exatamente termina, de vez que o clima alegórico, descompromissado, irreverente e irresponsável vem de antes e depois continua na mesma, emprestando curioso e deplorável perfil carnavalesco permanente à sociedade... medra a fantasia, abunda a alegoria, mas falta o saudável realismo da razão ou, pelo menos, do razoável.
Vai daí, farta-se o jornalismo de moda, personalismos, novelário, show, jogo, consumo e superficialidades que tais, enquanto escasseiam conteúdo, análise, crítica, defensoria, envolvimento, reflexão, compromisso, ética e, sobretudo, busca da verdade, no sentido epistemológico do termo.
Talvez, por isso mesmo, tenhamos que interromper... vai saber se essa sociedade quer mesmo veículos como Semana 3 e espaços como o Entremeios. A demanda demonstra que não e, portanto, a razão sugere que é esta a hora e a vez de sair de cena, porque monólogos são aborrecidos e socialmente inúteis.
Destarte, considerando a irreversibilidade que se apresenta ao insigne partinte, resta aos leitores a insigne ficante mídia contemporânea que aí está, disponível na banca mais próxima... divirta-se. De nossa parte, interrompemos por aqui.
Quem sabe noutro lugar e outro momento... quem sabe?
(Publicado originalmente na edição 37, de março de 2006, da revista Semana 3)
Termina nesta edição a aventura midiática de Semana 3 e, por causa, termina também a troca de figurinhas sobre mídia e adjacências que esta coluna procurou manter com os leitores desde meados de 2004, se não erram meus neurônios nem incorrem em engano meus desorganizados arquivos.
Foi bom! Durante esse período, mês sim, outro também, obrigava-me isolar um tema da/na mídia para tratar com os parceiros leitores, assim como fazem citologistas quando isolam determinada célula para pesquisa, do que pode resultar entendimento um pouco melhor do tecido. Conversar criticamente nunca é demais, nem debalde. Do diálogo vem debate e do debate costuma vir luz que permite enxergar melhor e, portanto, posicionar-se.
O lado ruim do processo é que as análises críticas aqui desenvolvidas, no mais das vezes, apontaram para horizontes pouco promissores e situações nada estimulantes no que respeita às relações mídia/sociedade. De um lado, a mídia insistindo em sobreviver exclusivamente como produto de/no mercado. De outro, amplas fatias da sociedade persistindo no afastamento gradual e inexorável da busca razoável de conhecimento e informação de interesse público, pra dedicar-se ao consumo constante e crescente de querelas e superficialidades. Assim, quando o repasto não é servido e o conviva não demonstra apetite, o banquete não acontece e os platonistas perdem a oportunidade do debate. À situação de jejum intelectual sobrevem o fato marcado pela esterilidade saarina da modernidade (ou pós-modernidade como querem alguns), dominada pelo supérfluo, avessa e aversa à exercitação do intelecto. Sobra esse mundeco midiático frívolo, envolvido “in toto” com a praga devastadora do consumismo liberal globalizado.
Escrevendo este derradeiro artigo no imediato pós-carnaval, perco-me na tentativa de localizar exatamente quando o carnaval começa e se exatamente termina, de vez que o clima alegórico, descompromissado, irreverente e irresponsável vem de antes e depois continua na mesma, emprestando curioso e deplorável perfil carnavalesco permanente à sociedade... medra a fantasia, abunda a alegoria, mas falta o saudável realismo da razão ou, pelo menos, do razoável.
Vai daí, farta-se o jornalismo de moda, personalismos, novelário, show, jogo, consumo e superficialidades que tais, enquanto escasseiam conteúdo, análise, crítica, defensoria, envolvimento, reflexão, compromisso, ética e, sobretudo, busca da verdade, no sentido epistemológico do termo.
Talvez, por isso mesmo, tenhamos que interromper... vai saber se essa sociedade quer mesmo veículos como Semana 3 e espaços como o Entremeios. A demanda demonstra que não e, portanto, a razão sugere que é esta a hora e a vez de sair de cena, porque monólogos são aborrecidos e socialmente inúteis.
Destarte, considerando a irreversibilidade que se apresenta ao insigne partinte, resta aos leitores a insigne ficante mídia contemporânea que aí está, disponível na banca mais próxima... divirta-se. De nossa parte, interrompemos por aqui.
Quem sabe noutro lugar e outro momento... quem sabe?
(Publicado originalmente na edição 37, de março de 2006, da revista Semana 3)
1 Comments:
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