Wagner Geribello, dezembro de 2005
Neojornalistas
Daniel Leb Sasaki... guarde o nome, você ainda vai ouvir falar dele, ou melhor, vai ler textos assinados por este promissor integrante da safra nova de jornalistas que, neste momento, transita da condição de recém-graduado, para aquela outra de profissional mergulhado no cotidiano da informação.
Leb começou muito bem. No derradeiro momento de faculdade recolheu informações, pesquisou à exaustão, gravou/anotou quilômetros de entrevistas e reuniu tudo em um protótipo de livro-reportagem, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo na PUC-Campinas. Na Banca tirou merecido dez e o livro foi inscrito na premiação que o Intercom, o mais importante evento nacional de comunicações sociais, destina a trabalhos de graduação. Leb faturou o segundo lugar.
Mas o sucesso não parou por aí. A editora Record sinalizou interesse, Leb fez ajustes e... resultado: quem esteve no espaço cultural da Fnac no Parque D. Pedro, em 18 de novembro, pode ver um jovem sorridente autografando “Pouso Forçado, a história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar”. O discurso de abertura ficou a cargo do senador Eduardo Suplicy, que além do próprio exemplar, levou mais dois, um para o Ministro da Defesa, outro para o comandante da aeronáutica, enaltecendo a importância da obra para conhecer mais sobre história recente do Brasil e até mesmo para retomar pendências legais, políticas, sociais e econômicas esquecidas, mas ainda não resolvidas.
Jovens como Daniel transpiram talento e representam alento para as desilusões todas que a gente vai empilhando, à medida que lê/ouve/vê tanta incompetência e tanto incompetente militando a mídia. A expectativa é que a turma nova arrase de vez com a mesmice, a acomodação, a ausência de conhecimento e a mercantilização que engessa o jornalismo da hora.
Quando repórteres de jornalões tradicionais e arrogantes como o “Estadão” pluralizam campus como (os) campus; quando a comentarista de política da CBN pré-condena no ar e com ironia, à revelia da justiça e fica tudo por isso mesmo; quando o noticiário internacional abre um quinto de página para comentar relações legais e afetivas entre uma soldada e um cachorro do exército norte-americano, entre outras barbáries, é hora de jogar esse povo todo no baú da mediocridade, para deixar que os novos, carregados de idealismo e orientados pelo intelecto, assumam as redações e resgatem o bom jornalismo do limbo em que se encontra.
Configurado como produto, ajustado pelo mercado e adequado ao interesse político (essa história de Sarneys e ACMs dominarem redes de comunicação e, congruentemente, cacicarem a política nacional), o jornalismo vem se agigantando na mediocridade e se apequenando na qualidade, além de fugir cada vez mais do seu horizonte de orientação que é (ou deveria ser) o interesse público, no sentido social e sociológico do termo. Concentração de veículos em poucos e poderosos grupos empresariais, domínio do interesse econômico sobre o objetivo jornalístico e uma esterilização crescente do conhecimento, empurram o jornalismo, cada vez mais, para o tampo da penteadeira, onde assume função de perfumaria supérflua, que enfeita mas não importa.
Por estas e outras, o desejo é que gente como Daniel Leb, não contaminada pela putrefação do ambiente, tome o jornalismo de assalto, levando ao público aquilo que ele precisa: imprensa séria, rigorosa na auto-avaliação e intransigente na própria valorização, não prostrada pelo servilismo mas postada como voz da sociedade, negando-se como produto de vendilhão, para se valorizar como serviço de interesse social.
Prestem atenção no Leb e na turma integrada ao modelo que ele representa. Da alquimia entre os novos jornalistas, fazendo e, na outra ponta, a sociedade, exigindo, vai (re)nascer bom jornalismo.
Ah, sim... sobre o livro? Trata-se de um apaixonado e detalhado relato de mil e muitas falcatruas que governo, autoridades e empresários, na época obscura da ditadura, puseram em andamento, tergiversando do direito e manipulando a justiça, para, no interesse de alguns, literalmente destruir uma empresa que foi símbolo da aviação comercial deste país, a Panair do Brasil. Mas sobre o livro a gente conversa em outra oportunidade, além do que, sobre a obra, há matéria e resenha de sobra pipocando na mídia. Por agora, ficamos com o autor e a esperança que ele representa.
Assim, o livro, que leva o termo “pouso forçado” no título, na verdade prenuncia empuxo total das turbinas para uma decolagem radiante na direção do bom jornalismo dos neojornalistas. Precisamos, esperamos, queremos.
(Publicado originalmente na edição 36, de dezembro de 2005, da revista Semana 3)
Daniel Leb Sasaki... guarde o nome, você ainda vai ouvir falar dele, ou melhor, vai ler textos assinados por este promissor integrante da safra nova de jornalistas que, neste momento, transita da condição de recém-graduado, para aquela outra de profissional mergulhado no cotidiano da informação.
Leb começou muito bem. No derradeiro momento de faculdade recolheu informações, pesquisou à exaustão, gravou/anotou quilômetros de entrevistas e reuniu tudo em um protótipo de livro-reportagem, apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo na PUC-Campinas. Na Banca tirou merecido dez e o livro foi inscrito na premiação que o Intercom, o mais importante evento nacional de comunicações sociais, destina a trabalhos de graduação. Leb faturou o segundo lugar.
Mas o sucesso não parou por aí. A editora Record sinalizou interesse, Leb fez ajustes e... resultado: quem esteve no espaço cultural da Fnac no Parque D. Pedro, em 18 de novembro, pode ver um jovem sorridente autografando “Pouso Forçado, a história por trás da destruição da Panair do Brasil pelo regime militar”. O discurso de abertura ficou a cargo do senador Eduardo Suplicy, que além do próprio exemplar, levou mais dois, um para o Ministro da Defesa, outro para o comandante da aeronáutica, enaltecendo a importância da obra para conhecer mais sobre história recente do Brasil e até mesmo para retomar pendências legais, políticas, sociais e econômicas esquecidas, mas ainda não resolvidas.
Jovens como Daniel transpiram talento e representam alento para as desilusões todas que a gente vai empilhando, à medida que lê/ouve/vê tanta incompetência e tanto incompetente militando a mídia. A expectativa é que a turma nova arrase de vez com a mesmice, a acomodação, a ausência de conhecimento e a mercantilização que engessa o jornalismo da hora.
Quando repórteres de jornalões tradicionais e arrogantes como o “Estadão” pluralizam campus como (os) campus; quando a comentarista de política da CBN pré-condena no ar e com ironia, à revelia da justiça e fica tudo por isso mesmo; quando o noticiário internacional abre um quinto de página para comentar relações legais e afetivas entre uma soldada e um cachorro do exército norte-americano, entre outras barbáries, é hora de jogar esse povo todo no baú da mediocridade, para deixar que os novos, carregados de idealismo e orientados pelo intelecto, assumam as redações e resgatem o bom jornalismo do limbo em que se encontra.
Configurado como produto, ajustado pelo mercado e adequado ao interesse político (essa história de Sarneys e ACMs dominarem redes de comunicação e, congruentemente, cacicarem a política nacional), o jornalismo vem se agigantando na mediocridade e se apequenando na qualidade, além de fugir cada vez mais do seu horizonte de orientação que é (ou deveria ser) o interesse público, no sentido social e sociológico do termo. Concentração de veículos em poucos e poderosos grupos empresariais, domínio do interesse econômico sobre o objetivo jornalístico e uma esterilização crescente do conhecimento, empurram o jornalismo, cada vez mais, para o tampo da penteadeira, onde assume função de perfumaria supérflua, que enfeita mas não importa.
Por estas e outras, o desejo é que gente como Daniel Leb, não contaminada pela putrefação do ambiente, tome o jornalismo de assalto, levando ao público aquilo que ele precisa: imprensa séria, rigorosa na auto-avaliação e intransigente na própria valorização, não prostrada pelo servilismo mas postada como voz da sociedade, negando-se como produto de vendilhão, para se valorizar como serviço de interesse social.
Prestem atenção no Leb e na turma integrada ao modelo que ele representa. Da alquimia entre os novos jornalistas, fazendo e, na outra ponta, a sociedade, exigindo, vai (re)nascer bom jornalismo.
Ah, sim... sobre o livro? Trata-se de um apaixonado e detalhado relato de mil e muitas falcatruas que governo, autoridades e empresários, na época obscura da ditadura, puseram em andamento, tergiversando do direito e manipulando a justiça, para, no interesse de alguns, literalmente destruir uma empresa que foi símbolo da aviação comercial deste país, a Panair do Brasil. Mas sobre o livro a gente conversa em outra oportunidade, além do que, sobre a obra, há matéria e resenha de sobra pipocando na mídia. Por agora, ficamos com o autor e a esperança que ele representa.
Assim, o livro, que leva o termo “pouso forçado” no título, na verdade prenuncia empuxo total das turbinas para uma decolagem radiante na direção do bom jornalismo dos neojornalistas. Precisamos, esperamos, queremos.
(Publicado originalmente na edição 36, de dezembro de 2005, da revista Semana 3)
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