Monday, March 20, 2006

Ricardo Meirelles, julho de 2005

Vodca e caipirinha



Um colega meu, jornalista, voltou recentemente da Rússia, onde esteve por uns 10 dias, a trabalho. Foi a primeira vez em que pôs os pés no país, após ter morado em Moscou por quatro anos, no início da década de 90. Ficou impressionado com o que presenciou: os sinais de crescimento saltam aos olhos, embora, ressalve, há todo o jeito de ser um desenvolvimento muito mais parecido com o que ocorreu na América do Sul (leia-se: produtor de desigualdade de renda) do que o que se viu na Irlanda ou na Espanha nas últimas décadas.

Um sinal expressivo nesse sentido: há dez anos, o trajeto entre o aeroporto e o centro de Moscou costumava ser feito em 40 minutos, e hoje demora duas horas e meia. Muito parecido com o que se tem visto nas grandes cidades brasileiras: expansão lenta da infra-estrutura, salto nas vendas de alguns bens de consumo (como automóveis) e produção inevitável, nesse caso específico, de trânsito caótico.

Na Rússia, o boom recente é atribuído a dois principais fatores: a disparada dos preços do petróleo nos últimos anos, em 2005 de forma especial, e a moratória da dívida, em agosto de 1998 — um processo que espalhou histeria pelos mercados financeiros e escancarou as fragilidades da economia brasileira: cinco meses e três presidentes do Banco Central depois, o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso desvalorizou o real.

Os estragos no Brasil, porém, foram fichinha perto do que ocorreu com a Rússia naquele ano: o Produto Interno Bruto (PIB, que mede a soma dos bens e serviços produzidos no país em determinado período) despencou 5,3%, algo que nunca ocorreu por aqui. Em 1998, a economia brasileira ficou praticamente estacionada (crescimento de 0,13%). Nos demos bem, portanto?

Não é bem assim. Peço licença ao leitor para disparar mais uma saraivada de números. No fatídico (para os russos) ano de 1998, um Brasil valia quase três Rússias — nosso PIB era de US$ 788 bilhões e o deles, US$ 271 bilhões. Desde então, a Rússia vem galopando 6,8% ao ano, em média. Resultado: no ano passado, a produção de bens e serviços nos dois países foi parecida: um Brasil valia 1,13 Rússia (o PIB brasileiro somou US$ 605 bilhões e o russo, US$ 535 bilhões).

Bom, isso foi o que ocorreu na “economia real” — essa expressão em si, comum no economês, não tem muita graça, admito, mas gosto dela porque traz implícito que seu oposto (o mercado financeiro) forma a economia “irreal”, o que faz todo sentido. No mundo das finanças, no mundo dos investidores, a diferença entre o que ocorreu aqui e na Rússia foi maior ainda (com vantagem folgada para eles).

Lancemos mão de um termômetro que freqüentava manchetes dos jornais às vésperas da eleição de Lula, mas que agora tem ficado engavetado nas páginas dos cadernos de economia: o risco-país. Trata-se do Índice de Títulos dos Mercados Emergentes (Emerging Markets Bond Index, o Embi+), elaborado pelo banco norte-americano JP Morgan Chase. Ele mede, em pontos, a diferença entre os juros pagos por títulos da dívida de países emergentes e os juros pagos pelos títulos do Tesouro dos EUA, considerados padrão de segurança.

Em tese, ele indica a capacidade, segundo a percepção dos investidores, de um país conseguir pagar suas dívidas em dia. Na prática, como diz em feliz definição o jornalista Clóvis Rossi, “o risco-país é, no fundo, um habeas corpus preventivo que os investidores adotam, em seu próprio benefício, para a hipótese de calote. Ou seja, cobram caro, preventivamente, com o que, se calote houver, já terão garantido todo o retorno necessário. Se não houver, melhor. Continuam faturando à tripa forra”.

Pois bem, apesar de ainda carregar a moratória na memória (com o perdão da rima), a Rússia tem um risco-país menor que o do Brasil. O índice brasileiro tem girado em torno de 400 pontos (ou seja, para comprarem os títulos da dívida brasileira os investidores exigem um juro 4 pontos percentuais maior que o do Tesouro norte-americano); já o risco russo é pouco menor que 150 pontos.

Essa historinha, parece-me, ensina pelo menos duas coisas. Uma, ter enormes reservas de petróleo ajuda muito. Outra, dar calote da dívida pode não ser o terror que tanto se apregoa.

(Publicado originalmente na edição 32, de julho de 2005, da revista Semana 3)

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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