Monday, March 20, 2006

Delfin, junho de 2005

A revolução chama



Falar de um quadrinho lançado há mais de um ano nunca foi do meu feitio. Mas, quando se tem um motivo para isto, eu faço de muito bom grado. Principalmente quando é para se dar boas notícias: é a Brainstore, meus caros, que volta com tudo! A editora, que estava meio sumida dos olhos de todos, aparecendo pra dar um rápido aceno de vez em quando, fincou presença na XII Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, de modo marcante.

Apesar do pequeno estande, a editora estava em peso, comandada pelo editor Eloyr Pacheco e trazendo muitas novidades, como a volta da revista sobre sci-fi e HQs, Replicante. Só que o importante é que, finalmente, chegou às minhas mãos um dos grandes trabalhos de ficção científica e aventura publicados no Brasil em 2004. Ninguém falou quase nada dele e, como ele foi bem lembrado na Bienal, merece esta matéria. Estou falando do belíssimo álbum Ironwolf: as chamas da revolução, de Howard Chaykin, Thomas Francis Moore, Mike Mignola e P. Craig Russel.

Influenciado por ícones da ficção científica dos anos 30 e 40, Chaykin, em parceria com o amigo Walt Simonson (responsável pela controvertida reformulação do Thor na última década), criou o universo de Ironwolf, no qual predomina o Império Galaktiko, agora também chamado de Comunidade. Lugares que podem parecer com cenários clássicos europeus, mas que, na real, pertencem a uma nova ópera espacial.

Existe também um planeta Terra. Mas ele não é o nosso, nem o universo é o mesmo. A colonização universal, graças às técnicas de propulsão desenvolvidas pelos chineses no final do século XXI, agora era uma realidade. Havia muio a se explorar, muito a se conquistar e, também, muito a se destruir. Por isso mesmo, a sociedade continuou organizada em castas, com as pessoas que mandam querendo cada vez mais o poder, achatando a população no mais puro empobrecimento.

A grande matéria-prima é a madeira. Por ela é que há as grandes batalhas. A principal delas envolve os dois irmãos da família Ironwolf. Um deles, querendo o poder a todo custo. O outro, liderando uma resistência contra o Império. Numa destas batalhas pelas florestas, a nave do capitão Brian Ironwolf é traída por frotas aliadas. Toda a sua tripulação é morta, exceto o seu comandante e o assistente Goodfellow. Após um coma de quase dez anos, ele retoma a consciência. E tudo o que ele deseja é vingança.

Soa um pouco como Guerra nas Estrelas? Sim, mas o universo de Chaykin é um tanto quanto mais sombrio. Principalmente por envolver muito mais política do que se espera. A aventura toda se passa num lugar onde nem mesmo o herói é de todo bom e, por isso mesmo, a vingança arde forte em seu peito — diferente, portanto, dos motivos de Luke Skywalker.

Aliás, Chaykin é um grande elo de ligação entre as suas histórias, pois foi ele que desenhou o roteiro de Roy Thomas para a adaptação oficial de Guerra nas Estrelas para as HQs (publicada por aqui, na época, pela Editora Bloch).

Aliás, é bom salientar que Ironwolf e seu universo são anteriores ao épico de George Lucas: em dezembro de 1973, ele já aparecia na revista Weird Worlds #8, da DC Comics.

E a Brain? Bem, as HQs estão sendo retomados com a editora, após a mesma perder os direitos de publicar seus títulos regulares, como Sandman, Transmetropolitan, John Constantine: Hellblazer e Preacher (este a poucos números do final, o que irritou fãs de norte a sul do País).

Apesar disso, é uma boa notícia para os fãs, que podem esperar novidades bem próximas.

E, por que não?, vida longa à Brainstore!

(Publicado originalmente na edição 31, de junho de 2005, da revista Semana 3)

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