Delfin, jul/ago de 2004
Procura-se: Bebop
A editora JBC lançou, há dois meses, o primeiro mangá semanal no Brasil. Mais uma iniciativa inovadora desta que é, junto com a Conrad, a pioneira neste tipo de quadrinho. As seis edições de Cowboy Bebop, no entanto, não vão deixar saudade: são quadrinhos ruins, previsíveis, que se passam mais ou menos entre os episódios 13 e 14 da aclamada série de tevê da Sunrise. Para os fãs que se acostumaram com as aventuras televisivas (no Brasil, apenas os afortunados assinantes da DirecTV puderam ver, graças ao excelente canal Locomotion), eles sabiam que faltava algo.
Não é preciso muito para descobrir: Cowboy Bebop é uma série frenética, sonora e visual. Um anime que se aproxima do ocidente a partir de seu nome, que é uma clara referência a duas particularidades surgidas na cultura americana. A primeira são os cowboys, nome dado aos caçadores civis de criminosos, prática legal até hoje nos Estados Unidos. A outra é referente ao estilo de música criado nos anos 40 por Charlie Parker, em conjunto com Dizzy Gillespie e Thelonious Monk, que possui um ritmo acelerado, com muitos e complexos movimentos improvisados.
Estes são os fundamentos da ação da série, ambientada em 2071 e centrada no anti-herói Spike Spiegel e em seus companheiros da astronave Bebop: o ex-policial Jet Black, a misteriosa Faye Valentine, a garota andrógina chamada Ed e o cão gênio Ein (nome que pode tanto remeter a Einstein como ao fato do cão ser único – o nome quer dizer ‘um’ em alemão). Mas o que havia de tão inovador assim na proposta de Cowboy Bebop?
Uma coisa muito simples, na verdade: a série tinha a séria pretensão de criar um tipo indefinível de anime, fora de qualquer escala comparativa. E é isto mesmo que ele fez: criando uma pequena novela espacial, com episódios únicos e independentes, apesar do grande pano de fundo por trás, com histórias canônicas, bem ao estilo das séries americanas de drama. Mas, em princípio, a TV Tokyo, retransmissora inicial e parceira da Sunrise no projeto, exibiu poucos episódios que, apesar de empolgarem os primeiros fãs, não convenceram a empreitada a continuar. Um canal via satélite nipônico, no entanto, tratou de transmitir a série com o respeito que ela merecia: graças ao WowWow, o Japão viu toda a jornada de queda de Spike, em sua luta contra o vilão Vicious por conta de seu amor por Julia.
Aliás, esta tríade, bem trabalhada por toda a trama, apenas com toques sutis à medida que os episódios avançavam, eclodiu em momentos especiais, que estão, sem dúvida alguma, entre os melhores momentos da animação mundial nos anos 90. Tudo isso embalado pelos Seatbelts, banda japonesa de jazz formada especialmente para interpretar as canções do anime e que navega pelo ambiente da série com uma destreza ímpar. Sua líder, a vocalista Yoko Kanno, é certamente o gênio por trás das canções arrebatadoras, que fundamentam todos os 26 roteiros da complexa costura urdida pelo roteirista e criador de Cowboy Bebop, Shinichiro Watanabe.
Foi o primeiro anime adulto a ser exibido nos EUA, no Cartoon Network. Aqui, para os mortais, só o mangá. É pouco, muito pouco.
(Publicado originalmente na edição 25, de jul/ago de 2004, da revista Semana 3)
A editora JBC lançou, há dois meses, o primeiro mangá semanal no Brasil. Mais uma iniciativa inovadora desta que é, junto com a Conrad, a pioneira neste tipo de quadrinho. As seis edições de Cowboy Bebop, no entanto, não vão deixar saudade: são quadrinhos ruins, previsíveis, que se passam mais ou menos entre os episódios 13 e 14 da aclamada série de tevê da Sunrise. Para os fãs que se acostumaram com as aventuras televisivas (no Brasil, apenas os afortunados assinantes da DirecTV puderam ver, graças ao excelente canal Locomotion), eles sabiam que faltava algo.
Não é preciso muito para descobrir: Cowboy Bebop é uma série frenética, sonora e visual. Um anime que se aproxima do ocidente a partir de seu nome, que é uma clara referência a duas particularidades surgidas na cultura americana. A primeira são os cowboys, nome dado aos caçadores civis de criminosos, prática legal até hoje nos Estados Unidos. A outra é referente ao estilo de música criado nos anos 40 por Charlie Parker, em conjunto com Dizzy Gillespie e Thelonious Monk, que possui um ritmo acelerado, com muitos e complexos movimentos improvisados.
Estes são os fundamentos da ação da série, ambientada em 2071 e centrada no anti-herói Spike Spiegel e em seus companheiros da astronave Bebop: o ex-policial Jet Black, a misteriosa Faye Valentine, a garota andrógina chamada Ed e o cão gênio Ein (nome que pode tanto remeter a Einstein como ao fato do cão ser único – o nome quer dizer ‘um’ em alemão). Mas o que havia de tão inovador assim na proposta de Cowboy Bebop?
Uma coisa muito simples, na verdade: a série tinha a séria pretensão de criar um tipo indefinível de anime, fora de qualquer escala comparativa. E é isto mesmo que ele fez: criando uma pequena novela espacial, com episódios únicos e independentes, apesar do grande pano de fundo por trás, com histórias canônicas, bem ao estilo das séries americanas de drama. Mas, em princípio, a TV Tokyo, retransmissora inicial e parceira da Sunrise no projeto, exibiu poucos episódios que, apesar de empolgarem os primeiros fãs, não convenceram a empreitada a continuar. Um canal via satélite nipônico, no entanto, tratou de transmitir a série com o respeito que ela merecia: graças ao WowWow, o Japão viu toda a jornada de queda de Spike, em sua luta contra o vilão Vicious por conta de seu amor por Julia.
Aliás, esta tríade, bem trabalhada por toda a trama, apenas com toques sutis à medida que os episódios avançavam, eclodiu em momentos especiais, que estão, sem dúvida alguma, entre os melhores momentos da animação mundial nos anos 90. Tudo isso embalado pelos Seatbelts, banda japonesa de jazz formada especialmente para interpretar as canções do anime e que navega pelo ambiente da série com uma destreza ímpar. Sua líder, a vocalista Yoko Kanno, é certamente o gênio por trás das canções arrebatadoras, que fundamentam todos os 26 roteiros da complexa costura urdida pelo roteirista e criador de Cowboy Bebop, Shinichiro Watanabe.
Foi o primeiro anime adulto a ser exibido nos EUA, no Cartoon Network. Aqui, para os mortais, só o mangá. É pouco, muito pouco.
(Publicado originalmente na edição 25, de jul/ago de 2004, da revista Semana 3)
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