Delfin, julho de 2005
O amor e o poder
A Garota-Retrô era como uma namoradinha da América. Provavelmente a heroína mais querida do país. Então o choque provocado por sua morte trágica não poderia ser menor do que foi: uma perda histórica. Para algumas pessoas, no entanto, esta morte é só o início de uma viagem em busca de histórias passadas que se pretendia esquecer. Assim, somos introduzidos às histórias de Christian Walker e Deena Pilgrim, os dois detetives encarregados de descobrir quem é o assassino daquela que era um exemplo para todas as mulheres.
O universo de Powers, novo título da Devir no Brasil, pretende jogar um novo viés na perspectiva pela qual os heróis são vistos. Uma perspectiva policial que, apesar da aparente natureza vigilantesca dos heróis uniformizados, poucas vezes é explorada. O responsável por esta virada é o roteirista Brian Michael Bendis, principalmente. Ele é muito bem secundado pelo cocriador da série, Michael Avon Oeming, e pelo colorista Pat Garrahy, mas é patente que a grande responsabilidade é do escritor.
Aliás, o trabalho com o lado policial das histórias, que o aproxima de autores como Max Allan Collins (Ms. Tree, Esrtrada para Perdição), leva os quadrinhos a uma situação pouco vista no universo superheróico. O estilo, tradicional na Europa (notadamente na Itália e nos países francófonos), ganha novos e violentos contornos no Novo Mundo. Não é incomum, portanto, que vejamos os uniformizados em situações mundanas.
Perceba isto: mundanas mesmo. Situações constrangedoras, que podem estragar suas carreiras. Situações de confronto entre a ordem estabelecida e os preceitos morais de cada indivíduo que se traveste para combater os males sociais. E quase sempre tais conflitos não levam a situações amistosas.
Bendis já havia incursionado pelo universo das investigações policiais antes de se aventurar pe¬las tramas de super-heróis. Um exemplo é sua série, inédita aqui, intitulada Torso. A narrativa é sobre o primeiro caso de Elliot Ness, transferido de Chicago após a prisão de Al Capone — também outro crime de relevância: o assassino do Torso, o primeiro serial killer dos EUA.
Mesmo hoje, Bendis espalha seu texto gigantesco (haja criatividade dos letristas para acondicionar tamanha quantidade de palavras por quadrinho!) por obras tão diversas como o Demolidor e a aclamada série Alias (nada a ver com a série de tevê homônima), ambas pela Marvel. E com o mesmo êxito alcançado após o prêmio Eisner conquistado em em 2001 pelo seu trabalho no primeiro arco de histórias de Powers, justamente o álbum que a Devir publicou há dois meses: Quem matou a Garota-Retrô?
A série em si é extremamente interessante, mas muitos insistem em compará-la com outros casos de visões alternativas do mundo dos heróis, como Astro City e Marvels. Porém, Powers possui um diferencial acentuado: Bendis apos¬tou na criação de sua própria mitologia, ao invés de recorrer a pastiches, reaclimatação dos arquétipos conhecidos dos heróis ou recontar as histórias tradicionais sob um novo prisma. Isto dá uma vivacidade renovada às suas tramas, o que é sempre muito bem vindo.
Também polêmico, um dos próximos arcos da série trata de uma cena criminal envolvendo jogadores de RPG. Chamado Roleplay, será interessante de ver o tom ácido do escritor sendo publicado pela editora que, hoje, mais publica material deste tipo de jogo no Brasil.
Paricularmente, eu acho o homem um grande roteirista. Mas, se puderem, corram atrás é de Torso. Lá, Bendis faz literatura. E história.
(Publicado originalmente na edição 32, de julho de 2005, da revista Semana 3)
A Garota-Retrô era como uma namoradinha da América. Provavelmente a heroína mais querida do país. Então o choque provocado por sua morte trágica não poderia ser menor do que foi: uma perda histórica. Para algumas pessoas, no entanto, esta morte é só o início de uma viagem em busca de histórias passadas que se pretendia esquecer. Assim, somos introduzidos às histórias de Christian Walker e Deena Pilgrim, os dois detetives encarregados de descobrir quem é o assassino daquela que era um exemplo para todas as mulheres.
O universo de Powers, novo título da Devir no Brasil, pretende jogar um novo viés na perspectiva pela qual os heróis são vistos. Uma perspectiva policial que, apesar da aparente natureza vigilantesca dos heróis uniformizados, poucas vezes é explorada. O responsável por esta virada é o roteirista Brian Michael Bendis, principalmente. Ele é muito bem secundado pelo cocriador da série, Michael Avon Oeming, e pelo colorista Pat Garrahy, mas é patente que a grande responsabilidade é do escritor.
Aliás, o trabalho com o lado policial das histórias, que o aproxima de autores como Max Allan Collins (Ms. Tree, Esrtrada para Perdição), leva os quadrinhos a uma situação pouco vista no universo superheróico. O estilo, tradicional na Europa (notadamente na Itália e nos países francófonos), ganha novos e violentos contornos no Novo Mundo. Não é incomum, portanto, que vejamos os uniformizados em situações mundanas.
Perceba isto: mundanas mesmo. Situações constrangedoras, que podem estragar suas carreiras. Situações de confronto entre a ordem estabelecida e os preceitos morais de cada indivíduo que se traveste para combater os males sociais. E quase sempre tais conflitos não levam a situações amistosas.
Bendis já havia incursionado pelo universo das investigações policiais antes de se aventurar pe¬las tramas de super-heróis. Um exemplo é sua série, inédita aqui, intitulada Torso. A narrativa é sobre o primeiro caso de Elliot Ness, transferido de Chicago após a prisão de Al Capone — também outro crime de relevância: o assassino do Torso, o primeiro serial killer dos EUA.
Mesmo hoje, Bendis espalha seu texto gigantesco (haja criatividade dos letristas para acondicionar tamanha quantidade de palavras por quadrinho!) por obras tão diversas como o Demolidor e a aclamada série Alias (nada a ver com a série de tevê homônima), ambas pela Marvel. E com o mesmo êxito alcançado após o prêmio Eisner conquistado em em 2001 pelo seu trabalho no primeiro arco de histórias de Powers, justamente o álbum que a Devir publicou há dois meses: Quem matou a Garota-Retrô?
A série em si é extremamente interessante, mas muitos insistem em compará-la com outros casos de visões alternativas do mundo dos heróis, como Astro City e Marvels. Porém, Powers possui um diferencial acentuado: Bendis apos¬tou na criação de sua própria mitologia, ao invés de recorrer a pastiches, reaclimatação dos arquétipos conhecidos dos heróis ou recontar as histórias tradicionais sob um novo prisma. Isto dá uma vivacidade renovada às suas tramas, o que é sempre muito bem vindo.
Também polêmico, um dos próximos arcos da série trata de uma cena criminal envolvendo jogadores de RPG. Chamado Roleplay, será interessante de ver o tom ácido do escritor sendo publicado pela editora que, hoje, mais publica material deste tipo de jogo no Brasil.
Paricularmente, eu acho o homem um grande roteirista. Mas, se puderem, corram atrás é de Torso. Lá, Bendis faz literatura. E história.
(Publicado originalmente na edição 32, de julho de 2005, da revista Semana 3)
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