Marcelo Träsel, junho de 2005
Impressões de São Paulo
Passei uma semana em São Paulo, capital, visitando amigos e cuidando de alguns assuntos pessoais. Como tinha certo tempo livre, aproveitei para tentar provar o máximo de novidades culinárias — gastando o mínimo de dinheiro possível, já que sou um miserável bolsista do mestrado em comunicação da UFRGS.
Algo que sempre me impressionou é o profissionalismo dos funcionários nas cozinhas paulistanas. Mesmo os botecos de quinta categoria mostram cuidado em utilizar bons ingredientes e, por exemplo, montar um cheeseburger de maneira impecável. Aqui em Porto Alegre há uma relação direta entre o preço do lanche e a avacalhação em sua preparação. Um possível motivo seria o fato de haver centenas de padarias e lanchonetes em cada quadra de São Paulo e milhares de pessoas de olho no emprego do chapista. Talvez o livre mercado funcione mesmo.
A primeira experiência foi na feira dominical da Liberdade. O cheiro de yakissoba domina o ar local — e suas roupas, por dias a fio. Mas a comida preparada nas barraquinhas compensa. Na Liberdade se pode averiguar a miscigenação brasileira: nordestinos e sulistas dividem o trabalho com japoneses, coreanos e chineses nas barraquinhas. O acarajé e o sushi compartilham o mesmo espaço. Aí está uma convivência difícil de encontrar em qualquer lugar do mundo.
Os bolinhos tako-yaki da banca de Emiko Naraki foram a melhor descoberta. São bolotas de farinha misturada com água ou algum caldo e recheadas com pedaços de polvo [tako]. Por cima, é espalhado um molho espesso à base de shoyu e depois peixe ralado. Não são fritos, mas grelhados com perícia pelos cozinheiros em formas com moldes esféricos. Apesar de levarem polvo no nome, os tako-yaki podem ser feitos com camarão também. A bandeja com seis custa R$ 6. Outras boas opções no local são o pão chinês recheado e o guiozá da banca de Yoko Nakamura.
O Ponto Chic, uma das lancherias mais famosas da cidade, lar do bauru original, foi a parada seguinte. O sanduíche foi inventado quando um cliente assíduo, cujo apelido era Bauru, pediu que o cozinheiro abrisse um pão francês e recheasse com rosbife, queijo e tomate. Os queijos prato, suíço, estepe e gouda derretidos juntos na manteiga tomam uma textura consistente e contrastam com o rosbife frio. Como há pouco molho, o pão fica crocante, mas ainda assim úmido pelo tomate e pelo pepino em conserva. O Ponto Chic receberia dez com uma estrelinha, se as batatas fritas, apesar de secas, não viessem com um sabor de óleo velho. O bauru é um tanto caro, também: R$ 9.
Outro acepipe excelente é o sanduíche de pernil da Lanchonete Estadão. Assim como o bauru do Ponto Chic, o sucesso se deve à simplicidade. Os pernis são assados apenas com sal. Num pão francês fresquinho, o cozinheiro passa um vinagrete de cebola e pimentão com molho de tomate e coloca diversas fatias da carne. A harmonização é perfeita, já que nenhum dos dois ingredientes é temperado a ponto de ofuscar o outro. E custa apenas R$ 5.
No nível médio de preços e seguindo a exploração das etnias que compõem São Paulo, o restaurante libanês Halim foi outra grande descoberta. Considerava os restaurantes árabes de Porto Alegre bastante bons, até provar a comida de lá. É muito diferente. É muito melhor. O tabule, por exemplo, leva muito mais salsa do tomate ou trigo. O falafel leva favas, além do grão de bico, e é bem sequinho e crocante, acompanhado de um molho picante com tahine. Já o uzi, um bolo recheado com arroz e carne de carneiro, nunca havia encontrado em um cardápio da capital gaúcha. Pela janelinha da cozinha, pode-se ver que há somente libaneses trabalhando, o que é bom sinal. Os pratos giram em torno de R$ 12, ou pode-se pedir um rodízio por R$ 35. Fica na rua dr. Rafael de Barros, 64, perto da estação Paraíso.
Na parte seguinte do relato gastronômico de São Paulo, uma visita ao restaurante de Jun Sakamoto. Não percam o próximo capítulo desta emocionante saga!
LINKS
www.estadaolanches.com.br
www.pontochic.com.br
www.feiradaliberdade.com.br
(Publicado originalmente na edição 31, de junho de 2005, da revista Semana 3)
Passei uma semana em São Paulo, capital, visitando amigos e cuidando de alguns assuntos pessoais. Como tinha certo tempo livre, aproveitei para tentar provar o máximo de novidades culinárias — gastando o mínimo de dinheiro possível, já que sou um miserável bolsista do mestrado em comunicação da UFRGS.
Algo que sempre me impressionou é o profissionalismo dos funcionários nas cozinhas paulistanas. Mesmo os botecos de quinta categoria mostram cuidado em utilizar bons ingredientes e, por exemplo, montar um cheeseburger de maneira impecável. Aqui em Porto Alegre há uma relação direta entre o preço do lanche e a avacalhação em sua preparação. Um possível motivo seria o fato de haver centenas de padarias e lanchonetes em cada quadra de São Paulo e milhares de pessoas de olho no emprego do chapista. Talvez o livre mercado funcione mesmo.
A primeira experiência foi na feira dominical da Liberdade. O cheiro de yakissoba domina o ar local — e suas roupas, por dias a fio. Mas a comida preparada nas barraquinhas compensa. Na Liberdade se pode averiguar a miscigenação brasileira: nordestinos e sulistas dividem o trabalho com japoneses, coreanos e chineses nas barraquinhas. O acarajé e o sushi compartilham o mesmo espaço. Aí está uma convivência difícil de encontrar em qualquer lugar do mundo.
Os bolinhos tako-yaki da banca de Emiko Naraki foram a melhor descoberta. São bolotas de farinha misturada com água ou algum caldo e recheadas com pedaços de polvo [tako]. Por cima, é espalhado um molho espesso à base de shoyu e depois peixe ralado. Não são fritos, mas grelhados com perícia pelos cozinheiros em formas com moldes esféricos. Apesar de levarem polvo no nome, os tako-yaki podem ser feitos com camarão também. A bandeja com seis custa R$ 6. Outras boas opções no local são o pão chinês recheado e o guiozá da banca de Yoko Nakamura.
O Ponto Chic, uma das lancherias mais famosas da cidade, lar do bauru original, foi a parada seguinte. O sanduíche foi inventado quando um cliente assíduo, cujo apelido era Bauru, pediu que o cozinheiro abrisse um pão francês e recheasse com rosbife, queijo e tomate. Os queijos prato, suíço, estepe e gouda derretidos juntos na manteiga tomam uma textura consistente e contrastam com o rosbife frio. Como há pouco molho, o pão fica crocante, mas ainda assim úmido pelo tomate e pelo pepino em conserva. O Ponto Chic receberia dez com uma estrelinha, se as batatas fritas, apesar de secas, não viessem com um sabor de óleo velho. O bauru é um tanto caro, também: R$ 9.
Outro acepipe excelente é o sanduíche de pernil da Lanchonete Estadão. Assim como o bauru do Ponto Chic, o sucesso se deve à simplicidade. Os pernis são assados apenas com sal. Num pão francês fresquinho, o cozinheiro passa um vinagrete de cebola e pimentão com molho de tomate e coloca diversas fatias da carne. A harmonização é perfeita, já que nenhum dos dois ingredientes é temperado a ponto de ofuscar o outro. E custa apenas R$ 5.
No nível médio de preços e seguindo a exploração das etnias que compõem São Paulo, o restaurante libanês Halim foi outra grande descoberta. Considerava os restaurantes árabes de Porto Alegre bastante bons, até provar a comida de lá. É muito diferente. É muito melhor. O tabule, por exemplo, leva muito mais salsa do tomate ou trigo. O falafel leva favas, além do grão de bico, e é bem sequinho e crocante, acompanhado de um molho picante com tahine. Já o uzi, um bolo recheado com arroz e carne de carneiro, nunca havia encontrado em um cardápio da capital gaúcha. Pela janelinha da cozinha, pode-se ver que há somente libaneses trabalhando, o que é bom sinal. Os pratos giram em torno de R$ 12, ou pode-se pedir um rodízio por R$ 35. Fica na rua dr. Rafael de Barros, 64, perto da estação Paraíso.
Na parte seguinte do relato gastronômico de São Paulo, uma visita ao restaurante de Jun Sakamoto. Não percam o próximo capítulo desta emocionante saga!
LINKS
www.estadaolanches.com.br
www.pontochic.com.br
www.feiradaliberdade.com.br
(Publicado originalmente na edição 31, de junho de 2005, da revista Semana 3)
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